11 de setembro de 2011

Classes Hospitalares do HC


No post
Suave Caminho no JO, eu apresentei a minha primeira reportagem para o Jornal do Ônibus, também conhecido como JO. Mas não disse que o JO é um jornal consolidado, com 24 anos de existência e veiculada três edições por semestre.

Já era maio de 2011, hora de pensar em outra pauta para a 2ª edição do semestre e a 268ª edição do jornal. A proposta do 
JO é trabalhar com matérias frias – ou seja, nenhum tema factual –, mas trazer assuntos relevantes, porém pouco explorados pela mídia convencional. 

Que assunto eu iria abordar? O que interessará ao público-alvo do 
JO, ou seja, os usuários de ônibus de Ribeirão Preto?

Um dia, navegando pelos sites oficiais do governo, vi uma nota que precisava de professores para as
classes hospitalares do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

Classe hospitalar
? Eu fiquei intrigada, não sabia que existia esse tipo de serviço e fui pesquisar mais sobre o assunto. Entrei em contato com a assessoria de imprensa do HC, que me encaminhou para a assistente social e chefe das classes hospitalares, Silvana Mariniello.

Bom, depois de algumas ligações, duas entregas de ofícios para requerer uma entrevista, eu consegui agendar um horário com a Silvana e com as quatro pedagogas do projeto e fui muito bem recebida.

Nessa reportagem aprendi novas lições, como os cuidados para não divulgar o rosto das crianças na hora de fotografar e também de não publicar o nome completo, usando somente as iniciais para preservar a privacidade delas.


Conheci histórias de crianças que moram no hospital há 10 anos e de outras que veio de diferentes estados para se tratar no HC e tiveram que ficar longe de suas famílias e de suas casas durante muito tempo. E para essas crianças não perderem o ano letivo foi criado o projeto
classes hospitalares, onde pedagogas dão aulas nos leitos, quando necessário, ou em salas de aula adaptadas dentro do hospital. 

Para fazer essa matéria, eu conheci outra realidade, me emocionei e vi que ideias simples são capazes de mudar o futuro de muitas pessoas. Se o leitor quiser conhecer um pouco mais sobre esse trabalho, vale a pena conferir a reportagem logo abaixo.

Capa do Jornal do Ônibus, edição 268, MAI2011 - Marcação em vermelho: chamada para a reportagem Classes Hospitalares



Página 5 do Jornal do Ônibus - Texto e foto: Bruna Zanuto


Caso a visualização da reportagem não esteja boa na imagem acima, segue abaixo o texto.


HC POSSUI QUATRO CLASSES HOSPITALARES
Crianças hospitalizadas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto recebem aulas nos leitos e em salas montadas dentro do hospital

O Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto possui quatro classes hospitalares, que estão vinculadas à Escola Estadual Professor Doutor Aymar Baptista Prado (escola mais próxima ao hospital) para atender crianças do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, que necessitam ficar hospitalizadas durante um certo período e longe de suas escolas de origem.
Segundo a assistente social e chefe de sessão das classes hospitalares, Silvana Mariniello, a ideia surgiu em 1973, mas com foco em pacientes adultos. “Percebi que vários pacientes não sabiam escrever o seu nome”. Segundo ela, nessa época, havia uma criança internada junto a esses adultos. Então veio a ideia de proporcionar um atendimento pedagógico para as crianças que ficariam um tempo afastadas da escola. “Começamos a trabalhar essa criança. E ela respondeu bem ao ensino”. A assistente social explica que o objetivo de trabalhar com os adultos foi deixado de lado, pois havia muita dificuldade em encontrar voluntários para dar aulas para eles.

Silvana acrescenta que o projeto é pioneiro em Ribeirão Preto-SP e também cita os obstáculos para  implantar as classes. “Uma vez, um médico falou que eu era louca e perguntou se eu achava que uma criança doente ia querer estudar. Eu falei que sim”. Ela lembra também que na década de 90, o Hospital Santa Lydia implantou um trabalho parecido, porém não era reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e hoje o Projeto Classe Hospitalar do HC é único na cidade.

Como conta Silvana, que trabalha no HC há 38 anos, no início o projeto não era reconhecido pelo estado, portanto, mesmo se o aluno tivesse aulas no hospital, perdia o ano letivo. Após o surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que garante a toda criança o direito à educação, as classes hospitalares do HC foram reconhecidas pelo MEC. Em 1997, foram criadas duas classes no Hospital das Clínicas de Ribeirão.

Com o passar do tempo, o número de crianças aumentou. Em 2000, foi aberta a terceira classe no hospital. Hoje, o HC conta com quatro classes, todas adaptadas para receber os aparelhos médicos e também devidamente montadas com computadores conectados à internet, além de mapas, gibis, materiais escolares e livros didáticos. O horário das aulas segue o de todas as escolas, das 7h às 11h30.

A pedagoga Vivian Bérgamo, que entrou no projeto este ano, explica que muitas crianças não podem sair dos quartos devido ao quadro clínico, então ela faz atendimentos nos leitos. “Toda manhã eu passo nos quartos. Para a criança que já é maior, eu deixo um exercício, outras menorzinhas, que estão no processo de alfabetização, precisam de mais acompanhamento. Então eu fico um tempo maior e depois volto para o outro aluno. O trabalho é muito dinâmico”.

CONTEÚDO UNIFICADO
Depois que o projeto classes hospitalares foi reconhecido pelas instituições de ensino, os alunos afastados das suas escolas, não correm risco de perderem o ano letivo quando participam das aulas no hospital.

A pedagoga Rejane Campos, que trabalha nas classes do hospital há nove anos, explica que as pedagogas têm um contato permanente com as escolas do aluno. “A escola de origem pode mandar as provas e nós aplicamos. Mas, muitas vezes, nós mesmas preparamos as provas, de acordo com as atividades que damos no bimestre”. Quanto aos materiais e equipamentos que os alunos precisam, são enviados pelo estado e doados pelo HC e pela Liga de Assistência aos Pacientes (LAP).

Já a pedagoga Maria Aparecida Magalini, que trabalha há 11 anos nas classes, esclarece que o conteúdo das séries está unificado no estado, portanto o aluno recebe o mesmo aprendizado de sua escola. Ela também ressalta o “jogo de cintura” que as pedagogas têm, para trabalhar alunos que estão atrasados em relação ao ano em que estão matriculados. “Nós temos que trabalhar primeiro a dificuldade do aluno, para depois acompanhar o plano de ensino de sua série”.

Rejane aponta que as crianças já matriculadas em alguma instituição de ensino recebem aulas no hospital e sua matrícula permanece em sua escola de origem. Mas se o aluno não tiver matrícula feita em nenhuma instituição, é matriculado na Escola Aymar Prado, vinculada às classes do hospital. No ano passado, foram atendidas pelas classes hospitalares aproximadamente 800 crianças. Mas a média anual pode variar de 900 a 1.100 alunos atendidos pelas quatro pedagogas.

A pedagoga Dalva Trittoli, que há três anos participa do projeto, fala da surpresa das mães que descobrem a existência desse trabalho. “A mãe de um aluno do Mato Grosso, que está no 1º ano, falou para a outra acompanhante como eram chiques as classes hospitalares. E que não sabia que isso existia e que é maravilhoso seu filho estar internado e continuar estudando”. A mãe da L.O.B., de 9 anos, Aparecida de Oliveira, conta que também veio do Mato Grosso atrás de um endocrinologista e ficou preocupada com os estudos da filha, quando descobriu que a criança precisaria ficar internada por tempo indeterminado. “Eu perguntei como iam ficar as aulas dela e o doutor Sonir me explicou sobre as classes e que ela poderá acompanhar as aulas”.

RESULTADOS
A mãe da pequena Y.A.B.M., de 11 anos, Elaine Borges, ressalta os benefícios que as classes hospitalares trarão à sua filha. “Eu acredito que ela não voltará atrasada. Faz um mês que está afastada da escola. Só quem está dentro do quarto vê o quanto é difícil para ela. E aqui as aulas também a distraem”. Outro aspecto positivo dessa iniciativa é melhorar o clima da internação, ressalta a pedagoga Vivian. “Quando a gente percebe que a criança está desmotivada, usamos vários métodos para envolver o aluno e fazer um trabalho diferenciado”. A pedagoga Maria Aparecida resume o efeito da classe hospitalar na criança. “É uma injeção de ânimo”.

Segundo Silvana, uma vez por ano são expostos os trabalhos realizados pelas crianças no térreo do HC. “A exposição é bem variada. Elas mostram o que realizam durante o ano”. E avisa para quem tiver interesse em prestigiar os trabalhos dessas crianças, esse ano a exposição será na Semana da Criança e estará aberta do dia 17 a 24 de outubro.

A classe hospitalar do HC já ganhou dois prêmios: em 2003 foi considerada um dos 20 melhores trabalhos do Brasil pela Fundação Getúlio Vargas e em 2005 foi intitulada como iniciativa de Boa Prática (Good Practice, em inglês) pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Um comentário:

  1. Oi, menina
    Já vai mile dias que te conheci na palestra da Abag. Tem talento. O texto comprova. E ama o Jornalismo. Coisa rara. Rezo para que você tenha todas as chances que merece. Parabéns pelo Blog!

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