Caso a imagem não dê leitura, segue abaixo o perfil na íntegra.
Radialista de sucesso começou a carreira por acaso
O radialista Porto Alegre mudou a maneira de fazer rádio no Brasil, com
o uso do telefone
Há exatos 65 anos, o jovem Pedro
Evaristo Schiavon, de 14, costumava ir frequentemente à Biblioteca Municipal de
Pelotas buscar alguns livros, como fazia de costume. Pedro desenvolveu desde
cedo o gosto pela leitura. Com a mãe enferma e obrigada a ficar de repouso, ele
encontrou nos livros, uma maneira de ficar mais próximo dela e ao mesmo tempo
de distraí-la.
Essa rotina permaneceu por certo
tempo, até que um dia a bibliotecária o convidou para participar do auditório
de um programa de rádio, que acontecia na biblioteca. Ele, preocupado por
deixar a mãe sozinha durante muito tempo, recusou o convite. Mas teve que
voltar atrás na decisão, pois a moça só liberaria os livros se ele
participasse. Sem escolha, encaminhou-se para o evento, por livre e espontânea “pressão”.
O programa da Rádio Cultura de
Pelotas para o qual o jovem foi convidado, era comandado pelo radialista José
Martins, que fazia perguntas sobre conhecimentos gerais. Pedro – pouco modesto
– ganhou todos os prêmios, mas esses nem foram tão importantes quanto o
destaque que ele conquistou junto à plateia. A visibilidade foi tanta, que ele
foi convidado para ser um colaborador da rádio. Com menos de dezoito anos,
Pedro criou o programa Segue o espetáculo, onde apurava e informava
notícias do cinema, teatro e de todos os eventos culturais da cidade.
PORTO ALEGRE
Filho único de um jovem paulista
- José Schiavon - e de uma linda gaúcha – Diva Borba Schiavon - Pedro nasceu em
Porto Alegre-RS, no dia 22 de junho de 1932. O tempo foi passando desde o seu
primeiro contato com o rádio e aos poucos conquistou mais espaço nas emissoras
radiofônicas. Com menos de 18 anos, ele trabalhou como colaborador de programas
radiofônicos desde 1946 e considera que sua carreira profissional teve início
em 1950, quando foi contratado pela PDR-4 - Rádio Cultura de Araraquara - que
ficava no galpão da fábrica das Meias Lupo.
A essa altura, Pedro já havia
conquistado a maioridade e mudou-se para o interior paulista depois da morte da
mãe e da decisão paterna de voltar às origens. Graças ao seu professor de
educação física, Júlio Herculano Pedroso Mazzei – preparador físico do Rei Pelé
–, o jovem Pedro se transformou no conhecido animador de auditório Porto
Alegre. Pedro explica que Mazzei não era muito bom em guardar nomes e durante
as aulas o professor dizia: “ei, você aí de Porto Alegre vem até aqui”. De
tanto ouvir “Porto Alegre pra lá, Porto Alegre pra cá”, Pedro Schiavon resolveu
adotar o apelido como nome artístico.
O radialista Porto Alegre se
orgulha de dizer: “eu fiz de tudo no rádio. Se precisasse de um animador de
auditório, eu estava ali. Se precisasse de um programador, logo me chamavam. Eu
era eclético por excelência”. Porto passou por todas as funções do rádio,
exceto uma: técnico em edição. E isso não por falta de competência, mas sim
porque não gostava. Apesar da grande experiência em todos os setores
radiofônicos, ele não esconde sua grande paixão: discoteca. Cada disco novo que
chegava à emissora, ele fazia questão de escutar inteiro, escrever as anotações
necessárias e organizá-los da melhor forma possível.
TELEFONE NO RÁDIO
Em 1956, com a inauguração da
PRA-7 de Ribeirão Preto – atual Rádio Clube -, Porto Alegre foi convidado para
ser o diretor-artístico da emissora. A partir daí, começou a apresentar
diversos programas, mas esses trabalhos não foram a grande contribuição que
deixou para o rádio. Porto conta com orgulho que a partir de 1956, ele mudou a
maneira de fazer rádio no país. “Eu fui o primeiro radialista a utilizar o
telefone no rádio e interagir com o ouvinte”. Ele conta que o primeiro programa
no qual incorporou o telefone se chamava Às suas ordens. Esse programa foi
um grande sucesso de audiência, como lembra o assessor da Câmara de Ribeirão
Preto, Schiavone Junior. “Nesse programa, tinha um telefone em que ele atendia
os ouvintes. E nessa época era muito difícil as pessoas falarem pelo telefone
no rádio. Foi um grande sucesso”.
Na época em que o radialista
trabalhava na PRA-7, conhecida como Palácio do Rádio (Rua Barão do Amazonas
esquina com a Avenida Francisco Junqueira), ele conviveu com artistas consagrados
hoje e que, na época, eram contratados da rádio de Ribeirão Preto, como o ator
Moacyr Franco e o humorista Rogério Cardoso. Porto guarda até hoje uma caixa de
fotos, com várias imagens junto a importantes nomes da música, do teatro e,
posteriormente, da TV como Maysa, Marlene, Hebe Camargo, Emilinha Borba, entre outros.
Em 1970, o radialista representou
Ribeirão Preto em um programa de televisão de São Paulo, chamado Cidade
contra Cidade, onde cada município produzia um show e a equipe vencedora levava
para o Sílvio Santos apresentar o espetáculo na extinta TV Tupi. Porto Alegre
disputou com 120 animadores e levou o primeiro lugar. Isso fez com que Silvio o
agradecesse no ar pelo excelente trabalho e o convidasse para trabalhar na
televisão.
Com o terceiro filho
recém-nascido, a esposa de Porto Alegre não quis mudar para São Paulo, ela
achava melhor educar as crianças em Ribeirão Preto, pois acreditava que seria
mais fácil cuidar dos três filhos homens em uma cidade menor. O filho do meio,
Paulo de Tarso Montserrat Schiavon, 42 anos, durante um período também esteve
envolvido com o rádio, mas não foi possível levar a carreira adiante devido à
falta de tempo e por não morar na mesma cidade onde era localizada a emissora
de rádio que o convidou. Tarso relata como é ser filho do famoso radialista.
“Ser filho do Porto abria portas em todos os lugares que a gente ia. Todo mundo
gostava dele e tinha muita amizade por ele”. Ele também explica como foi
conviver com a ausência do pai em vários momentos por causa do rádio. “Ele saia
de manhã e voltava bem tarde. A gente comentava que o nosso pai não estava
presente, mas estava trabalhando e fazendo aquilo que gostava. Mas nem por isso
deixamos de admirá-lo”.
MELHOR DO ANO
Depois de 1956, Porto ganhou –
aqui em Ribeirão Preto – 16 estatuetas de Melhor do Ano, sendo onze dessas de
modalidades diferentes. Melhor produtor musical, melhor animador de auditório, melhor
apresentador de programa de entrevista, Porto foi o melhor em várias categorias
e isso tudo se concretizou graças ao seu amor pelo o rádio. Como ele mesmo diz:
“tudo ao rádio”. Porto passou por todas as rádios AM e FM que existiam em Ribeirão
Preto na época. O jornalista Sidney Quartier relata como Porto era competente
no que fazia. “Ele era uma pessoa comunicativa, de fácil convivência e que
tratava o microfone de você”. Quartier revela que Porto Alegre não se
destacava somente no rádio: “ele jogou na ADA, Associação Desportiva
Araraquarense. Meio-campista, jogava muito. Era um grande jogador”.
Um dos fatos mais marcantes da
trajetória do radialista foi um incêndio no Estádio Noroeste, de Bauru-SP. Em
uma tarde de domingo, casa lotada, São Paulo e Bauru disputavam uma partida de
futebol e Porto Alegre estava cobrindo o jogo para a Rádio Nacional. De repente
começa a pegar fogo nas arquibancadas – que era toda construída em madeira – e
o incêndio se alastra rapidamente. “Foi o espetáculo mais cruel que eu já vi.
As pessoas enlouquecendo, cercadas pelo fogo”.
O radialista também demonstrou
interesse em outra área: Direito. Participou da primeira turma de formandos do
curso de Direito da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) e explica o que o
levou à escolha deste curso: “fui muito influenciado pelo meu padrinho, que era
advogado”.
Schiavone Junior lembra de um
fato engraçado que envolveu o Porto. ”Eu fui o vereador mais votado em uma das
eleições passadas e o pessoal cumprimentava o Porto Alegre, achando que eu era
filho dele, por causa do sobrenome parecido (risos)”.
Porto Alegre recebeu o título de
Cidadão Ribeirão-pretano, indicado pelo ex-vereador Sebastião Xavier, no dia 3
de fevereiro de 1998. Dos 79 anos que ele “carrega”, 52 foram dedicados ao
rádio. É casado há 45 anos com Maria Aparecida de Andrade Schiavon, tem três
filhos homens, quatro netas e dois netos, pediu aposentadoria do rádio em 1997,
sofreu uma isquemia cerebral, mas garante que isso não afetou em nada em sua
vida e afirma: “se algum dia você ouvir falar: o Porto Alegre morreu, não
chore. Porque eu fui muito feliz e sou realizado!”.