12 de fevereiro de 2012

Radialista Porto Alegre


Esse foi um dos trabalhos mais prazerosos que eu já fiz até hoje e você vai entender o porquê. Um dia, a professora Carmen Cagno comentou que ninguém havia proposto escrever um perfil de uma pessoa conhecida de Ribeirão Preto-SP no JO – Jornal do Ônibus. Fiquei com aquilo na cabeça e me perguntando quem teria uma história legal e interessante para o público do JO?


Quem acompanha esse blog viu que em agosto do ano passado, publiquei um artigo sobre o assunto da minha monografia: o radiojornal da década de 40,
Repórter Esso. Bom, para elaborar esse trabalho científico entrevistamos diversos radialistas que viveram e trabalharam na Época de Ouro do Rádio e um de nossos entrevistados foi o Pedro Evaristo Schiavon, mais conhecido como Porto Alegre.

Porto Alegre foi e ainda é uma das figuras mais conhecidas do rádio ribeirão-pretano. Ele trabalhou em todas as áreas do veículo, apresentou programas de auditório, entrevistou e recepcionou celebridades, trabalhou com vários artistas do rádio e que hoje estão na TV, ganhou vários prêmios de Melhor do Ano, enfim, ele viveu para o rádio e pelo rádio como ele mesmo diz.


Histórias boas é o que não faltam nesse perfil. Porto Alegre tem um jeito peculiar de contar toda a sua vivência no rádio. Devido às diversas visitas em sua casa para a elaboração desse trabalho, viramos amigos ao ponto de Porto dizer que ganhou mais uma neta. E eu, consequentemente, ganhei mais um avô. Não posso deixar de mencionar os doces maravilhosos de sua esposa, Maria Aparecida, e a carinhosa gata Mel, que sempre ficava dormindo no meu colo, enquanto eu e Porto passávamos a tarde conversando.


Com tanta informação, comecei a escrever a minha matéria. Nossa, como eu tinha coisa para falar! Só me esqueci de um pequeno detalhe técnico: a página inteira do 
JO comporta uma matéria de 6 mil caracteres, quando me dei conta já tinha escrito mais de 8 mil toques. Bom, apresentei minha matéria para Carmen, que aliás gostou muito e me elogiou pois ela achou que eu teria dificuldade em escrever um perfil, já que esse tipo de texto não segue o padrão de notícia, com o lead e a teoria da pirâmide invertida (ou seja, fazer o texto partindo das informações mais importantes para as menos importantes). Esse tipo de texto é um pouco mais literário, tem que começar com um assunto chave e depois contar a história em sua sequencia cronológica.

Já que o texto estava aprovado, tive que lembra-la que havia passado uns 2 mil caracteres do espaço que eu tinha no
JO e que quando fosse cortar a matéria para caber na página do jornal, eu precisaria de ajuda, pois cada linha daquele texto me parecia de extrema importância.

Com isso, Carmen sugeriu que fizemos pela primeira vez no
JO uma página e meia de reportagem. O professor de diagramação Daniel do Carmo estranhou no início, mas acabou aceitando e foi ele quem deu os toques finais, porém não menos importante, na diagramação da página que traz a belíssima história de Porto Alegre. 

STOP
Antes de chegarmos no perfil do Porto Alegre, que escrevi em setembro de 2011, vou falar da coincidência que aconteceu agora (março de 2012).


Bom, já contei no post Outros desafios que faço uma freelance como assessora de imprensa para a escola de dança Adriana Paula Balé (APB). Neste momento, estou cursando a disciplina de Telejornalismo e precisava de uma pauta bacana, com boas imagens, para gravar uma reportagem de TV. Então, me veio a ideia de falar sobre os benefícios da dança para o desenvolvimento físico e psicológico de uma criança e/ou adolescente.


Pedi à APB sugestão de um pai ou mãe que participasse ativamente das atividades que sua filha desenvolvia na escola, aí me sugeriram Paulo Schiavon, pai de Andressa Schiavon, por um acaso filho do Porto Alegre. Isso me fez chegar a conclusão de que Ribeirão Preto não é tão grande quanto parece (risos).
Agora, gostaria de compartilhar com você o retorno que tive do Porto Alegre sobre este perfil. No dia 25/04/2012, fui fotografar um espetáculo da Adriana Paula Balé no Teatro Municipal de Ribeirão Preto e encontrei o Paulo, que me levou até o Porto Alegre que estava na plateia. Quando perguntei o que ele tinha achado do perfil, ele me disse: "já fizeram muitos perfis sobre mim, em diversos jornais e outros veículos de comunicação. Mas você foi a única que conseguiu transmitir a verdadeira essência da minha história e por isso falo para todo mundo que este perfil que você escreveu é o oficial". Não é preciso falar ou explicar a emoção que senti. Este momento foi registrado pela minha amiga Larissa Costa e compartilho agora com vocês:


Bruna Zanuto e o ex-radialista Porto Alegre

Confira abaixo, essa história maravilhosa que eu tive o prazer de escrever.

Capa do Jornal do Ônibus, edição 272, NOV2011 - Marcação em vermelho, chamada para o perfil de Porto Alegre


Página 6 e 7 do Jornal do Ônibus - Texto: Bruna Zanuto - Foto: Arquivo Pessoal do Porto Alegre - Diagramação: Bruna Zanuto e Leandro Martins - Finalização: Daniel do Carmo

Caso a imagem não dê leitura, segue abaixo o perfil na íntegra.

Radialista de sucesso começou a carreira por acaso
O radialista Porto Alegre mudou a maneira de fazer rádio no Brasil, com o uso do telefone
Há exatos 65 anos, o jovem Pedro Evaristo Schiavon, de 14, costumava ir frequentemente à Biblioteca Municipal de Pelotas buscar alguns livros, como fazia de costume. Pedro desenvolveu desde cedo o gosto pela leitura. Com a mãe enferma e obrigada a ficar de repouso, ele encontrou nos livros, uma maneira de ficar mais próximo dela e ao mesmo tempo de distraí-la.

Essa rotina permaneceu por certo tempo, até que um dia a bibliotecária o convidou para participar do auditório de um programa de rádio, que acontecia na biblioteca. Ele, preocupado por deixar a mãe sozinha durante muito tempo, recusou o convite. Mas teve que voltar atrás na decisão, pois a moça só liberaria os livros se ele participasse. Sem escolha, encaminhou-se para o evento, por livre e espontânea “pressão”.

O programa da Rádio Cultura de Pelotas para o qual o jovem foi convidado, era comandado pelo radialista José Martins, que fazia perguntas sobre conhecimentos gerais. Pedro – pouco modesto – ganhou todos os prêmios, mas esses nem foram tão importantes quanto o destaque que ele conquistou junto à plateia. A visibilidade foi tanta, que ele foi convidado para ser um colaborador da rádio. Com menos de dezoito anos, Pedro criou o programa Segue o espetáculo, onde apurava e informava notícias do cinema, teatro e de todos os eventos culturais da cidade.

PORTO ALEGRE
Filho único de um jovem paulista - José Schiavon - e de uma linda gaúcha – Diva Borba Schiavon - Pedro nasceu em Porto Alegre-RS, no dia 22 de junho de 1932. O tempo foi passando desde o seu primeiro contato com o rádio e aos poucos conquistou mais espaço nas emissoras radiofônicas. Com menos de 18 anos, ele trabalhou como colaborador de programas radiofônicos desde 1946 e considera que sua carreira profissional teve início em 1950, quando foi contratado pela PDR-4 - Rádio Cultura de Araraquara - que ficava no galpão da fábrica das Meias Lupo.

A essa altura, Pedro já havia conquistado a maioridade e mudou-se para o interior paulista depois da morte da mãe e da decisão paterna de voltar às origens. Graças ao seu professor de educação física, Júlio Herculano Pedroso Mazzei – preparador físico do Rei Pelé –, o jovem Pedro se transformou no conhecido animador de auditório Porto Alegre. Pedro explica que Mazzei não era muito bom em guardar nomes e durante as aulas o professor dizia: “ei, você aí de Porto Alegre vem até aqui”. De tanto ouvir “Porto Alegre pra lá, Porto Alegre pra cá”, Pedro Schiavon resolveu adotar o apelido como nome artístico.

O radialista Porto Alegre se orgulha de dizer: “eu fiz de tudo no rádio. Se precisasse de um animador de auditório, eu estava ali. Se precisasse de um programador, logo me chamavam. Eu era eclético por excelência”. Porto passou por todas as funções do rádio, exceto uma: técnico em edição. E isso não por falta de competência, mas sim porque não gostava. Apesar da grande experiência em todos os setores radiofônicos, ele não esconde sua grande paixão: discoteca. Cada disco novo que chegava à emissora, ele fazia questão de escutar inteiro, escrever as anotações necessárias e organizá-los da melhor forma possível.

TELEFONE NO RÁDIO
Em 1956, com a inauguração da PRA-7 de Ribeirão Preto – atual Rádio Clube -, Porto Alegre foi convidado para ser o diretor-artístico da emissora. A partir daí, começou a apresentar diversos programas, mas esses trabalhos não foram a grande contribuição que deixou para o rádio. Porto conta com orgulho que a partir de 1956, ele mudou a maneira de fazer rádio no país. “Eu fui o primeiro radialista a utilizar o telefone no rádio e interagir com o ouvinte”. Ele conta que o primeiro programa no qual incorporou o telefone se chamava Às suas ordens. Esse programa foi um grande sucesso de audiência, como lembra o assessor da Câmara de Ribeirão Preto, Schiavone Junior. “Nesse programa, tinha um telefone em que ele atendia os ouvintes. E nessa época era muito difícil as pessoas falarem pelo telefone no rádio. Foi um grande sucesso”.

Na época em que o radialista trabalhava na PRA-7, conhecida como Palácio do Rádio (Rua Barão do Amazonas esquina com a Avenida Francisco Junqueira), ele conviveu com artistas consagrados hoje e que, na época, eram contratados da rádio de Ribeirão Preto, como o ator Moacyr Franco e o humorista Rogério Cardoso. Porto guarda até hoje uma caixa de fotos, com várias imagens junto a importantes nomes da música, do teatro e, posteriormente, da TV como Maysa, Marlene, Hebe Camargo, Emilinha Borba, entre outros.

Em 1970, o radialista representou Ribeirão Preto em um programa de televisão de São Paulo, chamado Cidade contra Cidade, onde cada município produzia um show e a equipe vencedora levava para o Sílvio Santos apresentar o espetáculo na extinta TV Tupi. Porto Alegre disputou com 120 animadores e levou o primeiro lugar. Isso fez com que Silvio o agradecesse no ar pelo excelente trabalho e o convidasse para trabalhar na televisão.

Com o terceiro filho recém-nascido, a esposa de Porto Alegre não quis mudar para São Paulo, ela achava melhor educar as crianças em Ribeirão Preto, pois acreditava que seria mais fácil cuidar dos três filhos homens em uma cidade menor. O filho do meio, Paulo de Tarso Montserrat Schiavon, 42 anos, durante um período também esteve envolvido com o rádio, mas não foi possível levar a carreira adiante devido à falta de tempo e por não morar na mesma cidade onde era localizada a emissora de rádio que o convidou. Tarso relata como é ser filho do famoso radialista. “Ser filho do Porto abria portas em todos os lugares que a gente ia. Todo mundo gostava dele e tinha muita amizade por ele”. Ele também explica como foi conviver com a ausência do pai em vários momentos por causa do rádio. “Ele saia de manhã e voltava bem tarde. A gente comentava que o nosso pai não estava presente, mas estava trabalhando e fazendo aquilo que gostava. Mas nem por isso deixamos de admirá-lo”.

MELHOR DO ANO
Depois de 1956, Porto ganhou – aqui em Ribeirão Preto – 16 estatuetas de Melhor do Ano, sendo onze dessas de modalidades diferentes. Melhor produtor musical, melhor animador de auditório, melhor apresentador de programa de entrevista, Porto foi o melhor em várias categorias e isso tudo se concretizou graças ao seu amor pelo o rádio. Como ele mesmo diz: “tudo ao rádio”. Porto passou por todas as rádios AM e FM que existiam em Ribeirão Preto na época. O jornalista Sidney Quartier relata como Porto era competente no que fazia. “Ele era uma pessoa comunicativa, de fácil convivência e que tratava o microfone de você”. Quartier revela que Porto Alegre não se destacava somente no rádio: “ele jogou na ADA, Associação Desportiva Araraquarense. Meio-campista, jogava muito. Era um grande jogador”.

Um dos fatos mais marcantes da trajetória do radialista foi um incêndio no Estádio Noroeste, de Bauru-SP. Em uma tarde de domingo, casa lotada, São Paulo e Bauru disputavam uma partida de futebol e Porto Alegre estava cobrindo o jogo para a Rádio Nacional. De repente começa a pegar fogo nas arquibancadas – que era toda construída em madeira – e o incêndio se alastra rapidamente. “Foi o espetáculo mais cruel que eu já vi. As pessoas enlouquecendo, cercadas pelo fogo”.

O radialista também demonstrou interesse em outra área: Direito. Participou da primeira turma de formandos do curso de Direito da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) e explica o que o levou à escolha deste curso: “fui muito influenciado pelo meu padrinho, que era advogado”.

Schiavone Junior lembra de um fato engraçado que envolveu o Porto. ”Eu fui o vereador mais votado em uma das eleições passadas e o pessoal cumprimentava o Porto Alegre, achando que eu era filho dele, por causa do sobrenome parecido (risos)”.

Porto Alegre recebeu o título de Cidadão Ribeirão-pretano, indicado pelo ex-vereador Sebastião Xavier, no dia 3 de fevereiro de 1998. Dos 79 anos que ele “carrega”, 52 foram dedicados ao rádio. É casado há 45 anos com Maria Aparecida de Andrade Schiavon, tem três filhos homens, quatro netas e dois netos, pediu aposentadoria do rádio em 1997, sofreu uma isquemia cerebral, mas garante que isso não afetou em nada em sua vida e afirma: “se algum dia você ouvir falar: o Porto Alegre morreu, não chore. Porque eu fui muito feliz e sou realizado!”.

Um comentário:

  1. Sou testemunha de tudo aquilo que foi dito e escrito, com muita autoridade e fidelidade, por você. Eu também vivi nesta época. Muitas saudades! Parabéns pra você.

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