25 de setembro de 2011

Pensionatos

Para finalizar a trilogia do JO (Jornal do Ônibus) do primeiro semestre de 2011, eu escolhi uma matéria para a editoria SERVIÇO.

Moradora de pensionato desde fevereiro de 2009, – ou seja, quando comecei a faculdade – eu resolvi explicar como funciona um pensionato estudantil e desmistificar aquele conceito de lugar rígido e cheio de regras.

No primeiro ano de faculdade, minha amiga Larissa Costa, perguntou – um pouco espantada: “Você mora num pensionato? Mas como é lá?”. Muitas pessoas imaginam que um pensionato estudantil é um local severo, com hora de sair e hora para chegar, como se fosse uma espécie de internato.

Mas, os pensionatos estudantis atuais eles funcionam como um hotel, você tem algumas refeições diárias, roupas lavadas e passadas, internet e quarto limpo, mas com uma diferença: o preço é mais acessível.

Esses estabelecimentos são muito interessantes para pessoas como eu, que chega a uma cidade sem conhecer nada, sem tempo para se dedicar às tarefas domésticas – pois passa o dia todo fora, estudando e trabalhando – e por se encaixar no orçamento dos estudantes, que, aliás, foi definido muito bem em um comercial de um banco: “estudante é tudo duro, rapaz!”.

Já deu para notar que não foi difícil conseguir fontes – entrevistados – para essa reportagem. Mas, essa matéria me deu certo trabalho: contar a história como uma repórter e não como uma moradora de pensionato. Acredito que consegui ser imparcial, mesmo estando tão envolvida com o assunto. Mas quero saber de você: Eu consegui ser objetiva, sem deixar-me envolver com a reportagem? Confira a matéria logo abaixo e deixe o seu comentário.


Página 4 do Jornal do Ônibus - Texto e foto: Bruna Zanuto - Diagramação: Bruna Zanuto e Larissa Costa
Caso a imagem não dê boa leitura, segue abaixo a reportagem na íntegra.

PENSIONATOS SÃO OPÇÕES DE MORADIA EM RP
Início da faculdade, procura de emprego, cursos de curta duração são alguns dos motivos que levam pessoas a procurar os pensionatos de Ribeirão Preto

Pensionatos ou pensões estudantis são uma das opções de moradia que Ri­beirão Preto-SP oferece para os es­tudantes ou trabalhadores que vêm de cidades distan­tes e não têm tempo de re­alizar tarefas domésticas. Alimentação, roupa lava­da, quartos mobiliados e limpos e internet wifi são alguns dos serviços ofere­cidos por esses estabeleci­mentos. De acordo com a necessidade do pensionis­ta, os valores também va­riam - quartos individu­ais são mais caros do que os quartos divididos entre dois pensionistas.

Muitas pessoas con­fundem os pensionatos es­tudantis com os pensiona­tos de freiras ou seminaris­tas. Cada pessoa que pro­cura um pensionato estu­dantil tem um objetivo de vida, portanto os horários dessas pessoas são flexí­veis e diferentes dos pensio­natos de freiras em que to­dos estão ali com um ob­jetivo único, horários con­trolados e regras mais rígi­das. As pensões estudantis também possuem suas re­gras, mas estas são rela­cionadas à organização e à boa convivência.

Os valores pagos pelos pensionistas variam, pois em um quarto dividido en­tre duas pessoas o aluguel mensal é de R$ 600, em média. Já o preço pago pelos quartos individuais gira em tor­no de R$ 850. A dona de um pensionato feminino localizado no bairro Nova Ribeirânia, Angela Apa­recida Viera, 48 anos, tra­balha nesse ramo há 12, explica que anualmen­te passam pelo estabele­cimento, entre diaristas e mensalistas, de 10 a 12 meninas. Ela conta que já recebeu pessoas de to­dos os estados brasilei­ros, inclusive do exterior. “Já recebi moças da Angola, Argentina, Fran­ça, Itália e EUA”. A es­tudante de Educação Fí­sica, Lisiane Destro, 18 anos, é original de Mo­coca-SP e explica por que optou por morar em pensionato há três meses. “Eu queria amizades no­vas, num ambiente des­conhecido, sem me preo­cupar com a alimentação e tarefas domésticas”.

A administradora, Maiara Aita, 22 anos, de Santo Augusto-RS veio para Ribeirão Preto em busca de emprego. Ela encon­trou o pensionato através de sites de busca na inter­net e ressalta o maior be­nefício na pensão onde mora. “Você nunca fica sozinho, tem sempre al­guém para conversar. Es­sas pessoas acabam sendo sua segunda família”. Já a estudante de Engenha­ria de Computação, Le­tícia Sufredini, 17 anos, veio de Tabatinga-SP e aponta qual a maior di­ficuldade de morar em pensionato: “adaptação e convivência com pessoas que você não conhecia”. A mãe de Letícia, Maria Solange Sufredini, apo­sentada, resume em uma palavra os benefícios que sua filha tem no pensio­nato onde mora: “como­didade”.

Morar em pensiona­to tem muitas vantagens, mas há algumas dificul­dades como explica a enfermeira Janaina Car­valho, 27 anos, de Mor­tugaba-BA. “Morar em pensionato é legal, mas você não se sente em sua casa, além das diferenças existentes entre as pesso­as que ali moram”. Janai­na morou em uma pensão em setembro do ano pas­sado para fazer um curso de inglês intensivo. Ela saiu da pensão onde mo­rava, para ficar mais pró­xima da universidade em que conseguiu uma bolsa de mestrado.

A estudante de Pu­blicidade e Propaganda, Elis Rother, 20 anos, é de Monte Alto-SP e acredi­ta que é viável economica­mente morar em pensiona­to, mas aponta a diferença de hábito entre as hóspe­des. “Algumas coisas são novas e nos causam espan­to, enquanto outras podem nos ensinar algo novo”.

Existem vários pensio­natos femininos, mascu­linos e mistos em Ribei­rão Preto, localizados per­to das universidades. Há muita concorrência entre eles, principalmente nas altas temporadas - início e meio de ano – período em que começam as aulas. Para mais informações, basta acessar as ferramen­tas de busca da internet e procurar por ‘Pensionatos Ribeirão Preto’.

11 de setembro de 2011

Classes Hospitalares do HC


No post
Suave Caminho no JO, eu apresentei a minha primeira reportagem para o Jornal do Ônibus, também conhecido como JO. Mas não disse que o JO é um jornal consolidado, com 24 anos de existência e veiculada três edições por semestre.

Já era maio de 2011, hora de pensar em outra pauta para a 2ª edição do semestre e a 268ª edição do jornal. A proposta do 
JO é trabalhar com matérias frias – ou seja, nenhum tema factual –, mas trazer assuntos relevantes, porém pouco explorados pela mídia convencional. 

Que assunto eu iria abordar? O que interessará ao público-alvo do 
JO, ou seja, os usuários de ônibus de Ribeirão Preto?

Um dia, navegando pelos sites oficiais do governo, vi uma nota que precisava de professores para as
classes hospitalares do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

Classe hospitalar
? Eu fiquei intrigada, não sabia que existia esse tipo de serviço e fui pesquisar mais sobre o assunto. Entrei em contato com a assessoria de imprensa do HC, que me encaminhou para a assistente social e chefe das classes hospitalares, Silvana Mariniello.

Bom, depois de algumas ligações, duas entregas de ofícios para requerer uma entrevista, eu consegui agendar um horário com a Silvana e com as quatro pedagogas do projeto e fui muito bem recebida.

Nessa reportagem aprendi novas lições, como os cuidados para não divulgar o rosto das crianças na hora de fotografar e também de não publicar o nome completo, usando somente as iniciais para preservar a privacidade delas.


Conheci histórias de crianças que moram no hospital há 10 anos e de outras que veio de diferentes estados para se tratar no HC e tiveram que ficar longe de suas famílias e de suas casas durante muito tempo. E para essas crianças não perderem o ano letivo foi criado o projeto
classes hospitalares, onde pedagogas dão aulas nos leitos, quando necessário, ou em salas de aula adaptadas dentro do hospital. 

Para fazer essa matéria, eu conheci outra realidade, me emocionei e vi que ideias simples são capazes de mudar o futuro de muitas pessoas. Se o leitor quiser conhecer um pouco mais sobre esse trabalho, vale a pena conferir a reportagem logo abaixo.

Capa do Jornal do Ônibus, edição 268, MAI2011 - Marcação em vermelho: chamada para a reportagem Classes Hospitalares



Página 5 do Jornal do Ônibus - Texto e foto: Bruna Zanuto


Caso a visualização da reportagem não esteja boa na imagem acima, segue abaixo o texto.


HC POSSUI QUATRO CLASSES HOSPITALARES
Crianças hospitalizadas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto recebem aulas nos leitos e em salas montadas dentro do hospital

O Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto possui quatro classes hospitalares, que estão vinculadas à Escola Estadual Professor Doutor Aymar Baptista Prado (escola mais próxima ao hospital) para atender crianças do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, que necessitam ficar hospitalizadas durante um certo período e longe de suas escolas de origem.
Segundo a assistente social e chefe de sessão das classes hospitalares, Silvana Mariniello, a ideia surgiu em 1973, mas com foco em pacientes adultos. “Percebi que vários pacientes não sabiam escrever o seu nome”. Segundo ela, nessa época, havia uma criança internada junto a esses adultos. Então veio a ideia de proporcionar um atendimento pedagógico para as crianças que ficariam um tempo afastadas da escola. “Começamos a trabalhar essa criança. E ela respondeu bem ao ensino”. A assistente social explica que o objetivo de trabalhar com os adultos foi deixado de lado, pois havia muita dificuldade em encontrar voluntários para dar aulas para eles.

Silvana acrescenta que o projeto é pioneiro em Ribeirão Preto-SP e também cita os obstáculos para  implantar as classes. “Uma vez, um médico falou que eu era louca e perguntou se eu achava que uma criança doente ia querer estudar. Eu falei que sim”. Ela lembra também que na década de 90, o Hospital Santa Lydia implantou um trabalho parecido, porém não era reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e hoje o Projeto Classe Hospitalar do HC é único na cidade.

Como conta Silvana, que trabalha no HC há 38 anos, no início o projeto não era reconhecido pelo estado, portanto, mesmo se o aluno tivesse aulas no hospital, perdia o ano letivo. Após o surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que garante a toda criança o direito à educação, as classes hospitalares do HC foram reconhecidas pelo MEC. Em 1997, foram criadas duas classes no Hospital das Clínicas de Ribeirão.

Com o passar do tempo, o número de crianças aumentou. Em 2000, foi aberta a terceira classe no hospital. Hoje, o HC conta com quatro classes, todas adaptadas para receber os aparelhos médicos e também devidamente montadas com computadores conectados à internet, além de mapas, gibis, materiais escolares e livros didáticos. O horário das aulas segue o de todas as escolas, das 7h às 11h30.

A pedagoga Vivian Bérgamo, que entrou no projeto este ano, explica que muitas crianças não podem sair dos quartos devido ao quadro clínico, então ela faz atendimentos nos leitos. “Toda manhã eu passo nos quartos. Para a criança que já é maior, eu deixo um exercício, outras menorzinhas, que estão no processo de alfabetização, precisam de mais acompanhamento. Então eu fico um tempo maior e depois volto para o outro aluno. O trabalho é muito dinâmico”.

CONTEÚDO UNIFICADO
Depois que o projeto classes hospitalares foi reconhecido pelas instituições de ensino, os alunos afastados das suas escolas, não correm risco de perderem o ano letivo quando participam das aulas no hospital.

A pedagoga Rejane Campos, que trabalha nas classes do hospital há nove anos, explica que as pedagogas têm um contato permanente com as escolas do aluno. “A escola de origem pode mandar as provas e nós aplicamos. Mas, muitas vezes, nós mesmas preparamos as provas, de acordo com as atividades que damos no bimestre”. Quanto aos materiais e equipamentos que os alunos precisam, são enviados pelo estado e doados pelo HC e pela Liga de Assistência aos Pacientes (LAP).

Já a pedagoga Maria Aparecida Magalini, que trabalha há 11 anos nas classes, esclarece que o conteúdo das séries está unificado no estado, portanto o aluno recebe o mesmo aprendizado de sua escola. Ela também ressalta o “jogo de cintura” que as pedagogas têm, para trabalhar alunos que estão atrasados em relação ao ano em que estão matriculados. “Nós temos que trabalhar primeiro a dificuldade do aluno, para depois acompanhar o plano de ensino de sua série”.

Rejane aponta que as crianças já matriculadas em alguma instituição de ensino recebem aulas no hospital e sua matrícula permanece em sua escola de origem. Mas se o aluno não tiver matrícula feita em nenhuma instituição, é matriculado na Escola Aymar Prado, vinculada às classes do hospital. No ano passado, foram atendidas pelas classes hospitalares aproximadamente 800 crianças. Mas a média anual pode variar de 900 a 1.100 alunos atendidos pelas quatro pedagogas.

A pedagoga Dalva Trittoli, que há três anos participa do projeto, fala da surpresa das mães que descobrem a existência desse trabalho. “A mãe de um aluno do Mato Grosso, que está no 1º ano, falou para a outra acompanhante como eram chiques as classes hospitalares. E que não sabia que isso existia e que é maravilhoso seu filho estar internado e continuar estudando”. A mãe da L.O.B., de 9 anos, Aparecida de Oliveira, conta que também veio do Mato Grosso atrás de um endocrinologista e ficou preocupada com os estudos da filha, quando descobriu que a criança precisaria ficar internada por tempo indeterminado. “Eu perguntei como iam ficar as aulas dela e o doutor Sonir me explicou sobre as classes e que ela poderá acompanhar as aulas”.

RESULTADOS
A mãe da pequena Y.A.B.M., de 11 anos, Elaine Borges, ressalta os benefícios que as classes hospitalares trarão à sua filha. “Eu acredito que ela não voltará atrasada. Faz um mês que está afastada da escola. Só quem está dentro do quarto vê o quanto é difícil para ela. E aqui as aulas também a distraem”. Outro aspecto positivo dessa iniciativa é melhorar o clima da internação, ressalta a pedagoga Vivian. “Quando a gente percebe que a criança está desmotivada, usamos vários métodos para envolver o aluno e fazer um trabalho diferenciado”. A pedagoga Maria Aparecida resume o efeito da classe hospitalar na criança. “É uma injeção de ânimo”.

Segundo Silvana, uma vez por ano são expostos os trabalhos realizados pelas crianças no térreo do HC. “A exposição é bem variada. Elas mostram o que realizam durante o ano”. E avisa para quem tiver interesse em prestigiar os trabalhos dessas crianças, esse ano a exposição será na Semana da Criança e estará aberta do dia 17 a 24 de outubro.

A classe hospitalar do HC já ganhou dois prêmios: em 2003 foi considerada um dos 20 melhores trabalhos do Brasil pela Fundação Getúlio Vargas e em 2005 foi intitulada como iniciativa de Boa Prática (Good Practice, em inglês) pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Suave Caminho no JO


Conforme mostrado na publicação Linguagem de rádio, é possível adaptar uma matéria de jornal impresso para a linguagem de um radiojornal. Agora, fiz o inverso: transformei a matéria de rádio Suave Caminho em uma matéria de jornal impresso.


Agora vou explicar como tudo aconteceu. No 1º semestre deste ano, nos deparamos com o JO – Jornal do Ônibus. O JO é produzido, diagramado e distribuído pelos alunos da 5º e 6º etapa do curso de Jornalismo da Unaerp. Esse jornal possui 12 páginas e são impressos 1.500 exemplares, que são entregues nos pontos de ônibus mais movimentados de Ribeirão Preto-SP.


Esse trabalho envolveu três disciplinas: Redação Jornalística III, da professora Carmen Cagno, Edição de Jornalismo Impresso I, da professora Elivanete Zuppolini, e Planejamento Gráfico I, do professor Daniel do Carmo.


O que mais me assustou no início dos trabalhos do JO, foram as aulas de diagramação. Até então, eu acreditava que eu iria somente produzir reportagens e não colocá-las de uma forma bonita e criativa nas páginas. A partir daí, me foi apresentado o programa InDesign. Pois é, esse software serve para diagramar páginas, fazer composições harmônicas e que busquem a curiosidade e os olhos do leitor.


O programa nem é tão complicado assim, mas para uma pessoa que trabalha com a tela preta do AutoCAD o dia inteiro e está acostumada com determinadas ferramentas, quando se vê diante de outro programa, com ferramentas completamente diferentes fica meio confusa.


Passado o susto inicial que o InDesign provocou em mim, vamos para a melhor parte: escrever a reportagem. Entrei em contato com os meus amigos Sonia e Jeferson novamente, atualizei os dados, acrescentei informações e o texto ficou pronto. Trabalho finalizado? Não, faltava outro braço importante do processo de elaboração de um jornal: a fotografia.


Chegou a hora de colocar em prática o olhar jornalístico, que aprendemos com o professor Cesar Mulati lá no 3º semestre. A foto de um jornal jamais deve ser manipulada. O fotojornalista tem que capturar a imagem e enquadrar na hora do clique.


A parte difícil nesse caso nem foi fotografar, mas sim arrumar tempo para isso. Trabalhar o dia todo e estudar a noite limita um pouco o tempo dessa jovem jornalista. Detalhe importante: o projeto Suave Caminho funciona de segunda a sexta-feira das 16h30 às 18h. Como resolver essa falta de tempo? Nada como um dia sem horário de almoço, que não te impeça de sair mais cedo e fazer seus trabalhos de faculdade, rotina bastante comum para universitários que trabalham.


Mas tinha outro fator importante e que também limitaria bastante as duas horas disponíveis que eu tinha: condução. Era necessário pegar dois ônibus para chegar ao meu destino. Depois de tanta correria, deu tudo certo. Fiz minhas fotos, consegui não chegar atrasada na faculdade e realizei um bom trabalho.


Confira agora a capa da edição nº 267 do Jornal do Ônibus e a página 5 dessa edição, onde foi publicado meu trabalho. E não se esqueça de deixar seu comentário. Boa Leitura!


Capa Jornal do Ônibus, edição 267, ABR2011 - Marcação em vermelho: chamada para a reportagem do Suave Caminho
Página 5 do Jornal do Ônibus - Texto e foto: Bruna Zanuto
Caso a imagem não dê boa leitura, segue abaixo a reportagem na íntegra.

CADEIRANTES ENSINAM CRIANÇAS CARENTES
O casal de cadeirantes Sonia e Jeferson ajuda na alfabetização de 30 crianças do bairro Orestes Lopes de Camargo, Zona Norte de Ribeirão, numa sala de aula improvisada na garagem de sua casa

O projeto Suave Caminho – Apoio ao Aprendizado foi criado em 2007, por um casal de cadeirantes, para reforçar a alfabetização e desenvolver a autoestima de crianças de 5 a 8 anos, que apresentam dificuldades na escola e que moram em seu bairro, Orestes Lopes de Camargo, em Ribeirão Preto-SP, ou em bairros vizinhos.

Sonia Soranzo, de 51 anos, e Jeferson Andrade, de 46, recebem de segunda a quinta, das 16h30 às 18h, 30 crianças na garagem de sua casa, onde improvisam uma sala de aula. Nesse ambiente eles organizam uma espécie de acompanhamento escolar e reforço de aprendizado. Ali reúnem todos os materiais necessários para trabalhar com os estudantes, desde as 15 carteiras, até a lousa, livros infantis e didáticos, lápis de cor, caderno e uma pasta para cada aluno guardar o seu material e os seus trabalhos.


Sônia e Jeferson vivem juntos há nove anos. Sonia, que ministra as atividades de reforço junto aos pequenos estudantes, estudou até o 1º ano do ensino médio e trabalha meio período como telefonista em uma escola particular muito conceituada em Ribeirão. Jeferson frequentou até a 5º série do ensino fundamental. Ele trabalha de segunda a sexta, das 6h30 às 14h30, no cruzamento da Avenida Treze de Maio com a Rua Iguape, vendendo chicletes para os motoristas e pedestres.


O casal já participou de corrida de rua, se apresentou no Theatro Pedro II, no espetáculo “Se eu não te amasse tanto assim” e desfilou no Carnaval 2011 como mestre-sala e porta-bandeira. Os dois jogam basquete, fizeram dança de rua, adoram festas, além de comandarem o projeto Suave Caminho há quatro anos.


Aulas de português, matemática, desenho, brincadeiras e jogos educativos fazem parte das atividades desenvolvidas junto às crianças. Agora, o Suave Caminho ganhou mais um voluntário, Gleice Alves Martins, universitária
de 26 anos, que oferece aulas de inglês aos sábados, das 9h às 11h, com o horário dividido em duas turmas, de acordo com a idade.

Guilherme Henrique de Souza Santana, de 12 anos, que participa do projeto há três, fala de sua melhora “quando eu estava na escola eu não sabia fazer contas e frações. Agora aqui eu aprendi”.


Tudo começou quando uma criança vizinha do casal apresentou dificuldades na escola. Sonia percebeu que podia fazer alguma coisa para mudar essa realidade. A partir daí começou a receber o pequeno escolar e convidou mais dois que estavam com a mesma dificuldade. Aos poucos, o número de alunos foi aumentando e ela percebeu que a experiência dava certo e que os resultados eram positivos.


Até agora, o projeto já recebeu mais de 60 crianças em seus três anos de existência e o ingresso de alunos é feito na medida em que as vagas vão surgindo. Quando as mães percebem a melhora dos filhos na escola, dão lugar a outra criança.


A frequência dos alunos costuma ser alta, pois há uma preocupação da própria criança em não perder sua vaga. Sonia e Jeferson afirmam que os alunos chegam muito animados com o projeto, pressionando até os pais para chegarem logo.


Benefícios no aprendizado
Diante da melhora no desempenho escolar das crianças, alguns pais já notaram que o Suave Caminho tem contribuído também para o desenvolvimento afetivo, a atenção em sala de aula e o gosto pela leitura. Segundo eles, antes as crianças do projeto apresentavam muita dificuldade para ler. Hoje, com o reforço que recebem do Suave Caminho, os alunos são estimulados para o exercício da leitura e do aprendizado.

O técnico de áudio, Augusto César Zaparolli, pai de Débora Vitória, que está na 3º série do ensino fundamental e participa do projeto, acredita que o reforço já contribuiu para a melhora do desempenho escolar de sua filha. “O projeto vem ajudando muito. Ela estava com algumas dificuldades e agora está com um desenvolvimento melhor”. Ele acredita que o grande número de alunos em sala de aula na rede pública de ensino, dificulta uma atenção especial por parte dos professores.


A psicopedagoga Ana Lúcia Braga acredita que atitudes como as de Sonia e Jeferson podem contribuir para o sucesso da criança na escola. “Se existe alguém que tem a intenção, mesmo não sendo professor, ou educador, de dar atenção para a criança e ainda se propõe a contar histórias, jogar jogos educativos e fazer atividades pedagógicas, isso ajuda sim”. Para Ana Lucia, se as crianças puderem tirar suas dúvidas no reforço escolar, provavelmente não apresentarão problemas em sala de aula.

Doações

Todos os materiais utilizados no projeto são adquiridos através de doações. O casal aceita somente os materiais e equipamentos utilizados pelas crianças, rejeitando qualquer tipo de ajuda financeira, para garantir a transparência do projeto. O Suave Caminho não possui um patrocinador ou colaborador mensal. A divulgação é feita através de pessoas que conhecem o trabalho do casal, se interessam pela causa e passam a ajudar.

Sonia ressalta um dos motivos mais importantes para oferecer material às crianças, em vez de pedir que elas tragam de casa. “O que a gente pede [aos doadores] é o material básico como lápis, borracha, lápis de cor. Dessa forma, não existirá uma diferença de material entre elas”.

O Suave Caminho já recebeu a doação de cinco computadores e idealiza um espaço maior, para poder atender mais crianças. Sonia e Jeferson têm a intenção de conseguir voluntários para dar aulas de espanhol e informática e montar uma brinquedoteca, tudo para aperfeiçoar ainda mais o projeto e atender as diversas necessidades das crianças.

Sonia pensa em continuar seus estudos, que foram interrompidos no 2º ano do ensino médio e fazer um curso superior que traga a oportunidade de continuar trabalhando em benefício da sociedade. Como ela diz para seus alunos, “a pior deficiência é a preguiça, pois para essa não tem jeito”.

No Natal de 2010, o casal fez uma festa para as crianças do bairro, que participam ou não do projeto, e conseguiu presentear 100 crianças com brinquedos, roupas e sapatos novos. Todos os presentes foram conseguidos através de doações dos amigos do projeto.