11 de setembro de 2011

Suave Caminho no JO


Conforme mostrado na publicação Linguagem de rádio, é possível adaptar uma matéria de jornal impresso para a linguagem de um radiojornal. Agora, fiz o inverso: transformei a matéria de rádio Suave Caminho em uma matéria de jornal impresso.


Agora vou explicar como tudo aconteceu. No 1º semestre deste ano, nos deparamos com o JO – Jornal do Ônibus. O JO é produzido, diagramado e distribuído pelos alunos da 5º e 6º etapa do curso de Jornalismo da Unaerp. Esse jornal possui 12 páginas e são impressos 1.500 exemplares, que são entregues nos pontos de ônibus mais movimentados de Ribeirão Preto-SP.


Esse trabalho envolveu três disciplinas: Redação Jornalística III, da professora Carmen Cagno, Edição de Jornalismo Impresso I, da professora Elivanete Zuppolini, e Planejamento Gráfico I, do professor Daniel do Carmo.


O que mais me assustou no início dos trabalhos do JO, foram as aulas de diagramação. Até então, eu acreditava que eu iria somente produzir reportagens e não colocá-las de uma forma bonita e criativa nas páginas. A partir daí, me foi apresentado o programa InDesign. Pois é, esse software serve para diagramar páginas, fazer composições harmônicas e que busquem a curiosidade e os olhos do leitor.


O programa nem é tão complicado assim, mas para uma pessoa que trabalha com a tela preta do AutoCAD o dia inteiro e está acostumada com determinadas ferramentas, quando se vê diante de outro programa, com ferramentas completamente diferentes fica meio confusa.


Passado o susto inicial que o InDesign provocou em mim, vamos para a melhor parte: escrever a reportagem. Entrei em contato com os meus amigos Sonia e Jeferson novamente, atualizei os dados, acrescentei informações e o texto ficou pronto. Trabalho finalizado? Não, faltava outro braço importante do processo de elaboração de um jornal: a fotografia.


Chegou a hora de colocar em prática o olhar jornalístico, que aprendemos com o professor Cesar Mulati lá no 3º semestre. A foto de um jornal jamais deve ser manipulada. O fotojornalista tem que capturar a imagem e enquadrar na hora do clique.


A parte difícil nesse caso nem foi fotografar, mas sim arrumar tempo para isso. Trabalhar o dia todo e estudar a noite limita um pouco o tempo dessa jovem jornalista. Detalhe importante: o projeto Suave Caminho funciona de segunda a sexta-feira das 16h30 às 18h. Como resolver essa falta de tempo? Nada como um dia sem horário de almoço, que não te impeça de sair mais cedo e fazer seus trabalhos de faculdade, rotina bastante comum para universitários que trabalham.


Mas tinha outro fator importante e que também limitaria bastante as duas horas disponíveis que eu tinha: condução. Era necessário pegar dois ônibus para chegar ao meu destino. Depois de tanta correria, deu tudo certo. Fiz minhas fotos, consegui não chegar atrasada na faculdade e realizei um bom trabalho.


Confira agora a capa da edição nº 267 do Jornal do Ônibus e a página 5 dessa edição, onde foi publicado meu trabalho. E não se esqueça de deixar seu comentário. Boa Leitura!


Capa Jornal do Ônibus, edição 267, ABR2011 - Marcação em vermelho: chamada para a reportagem do Suave Caminho
Página 5 do Jornal do Ônibus - Texto e foto: Bruna Zanuto
Caso a imagem não dê boa leitura, segue abaixo a reportagem na íntegra.

CADEIRANTES ENSINAM CRIANÇAS CARENTES
O casal de cadeirantes Sonia e Jeferson ajuda na alfabetização de 30 crianças do bairro Orestes Lopes de Camargo, Zona Norte de Ribeirão, numa sala de aula improvisada na garagem de sua casa

O projeto Suave Caminho – Apoio ao Aprendizado foi criado em 2007, por um casal de cadeirantes, para reforçar a alfabetização e desenvolver a autoestima de crianças de 5 a 8 anos, que apresentam dificuldades na escola e que moram em seu bairro, Orestes Lopes de Camargo, em Ribeirão Preto-SP, ou em bairros vizinhos.

Sonia Soranzo, de 51 anos, e Jeferson Andrade, de 46, recebem de segunda a quinta, das 16h30 às 18h, 30 crianças na garagem de sua casa, onde improvisam uma sala de aula. Nesse ambiente eles organizam uma espécie de acompanhamento escolar e reforço de aprendizado. Ali reúnem todos os materiais necessários para trabalhar com os estudantes, desde as 15 carteiras, até a lousa, livros infantis e didáticos, lápis de cor, caderno e uma pasta para cada aluno guardar o seu material e os seus trabalhos.


Sônia e Jeferson vivem juntos há nove anos. Sonia, que ministra as atividades de reforço junto aos pequenos estudantes, estudou até o 1º ano do ensino médio e trabalha meio período como telefonista em uma escola particular muito conceituada em Ribeirão. Jeferson frequentou até a 5º série do ensino fundamental. Ele trabalha de segunda a sexta, das 6h30 às 14h30, no cruzamento da Avenida Treze de Maio com a Rua Iguape, vendendo chicletes para os motoristas e pedestres.


O casal já participou de corrida de rua, se apresentou no Theatro Pedro II, no espetáculo “Se eu não te amasse tanto assim” e desfilou no Carnaval 2011 como mestre-sala e porta-bandeira. Os dois jogam basquete, fizeram dança de rua, adoram festas, além de comandarem o projeto Suave Caminho há quatro anos.


Aulas de português, matemática, desenho, brincadeiras e jogos educativos fazem parte das atividades desenvolvidas junto às crianças. Agora, o Suave Caminho ganhou mais um voluntário, Gleice Alves Martins, universitária
de 26 anos, que oferece aulas de inglês aos sábados, das 9h às 11h, com o horário dividido em duas turmas, de acordo com a idade.

Guilherme Henrique de Souza Santana, de 12 anos, que participa do projeto há três, fala de sua melhora “quando eu estava na escola eu não sabia fazer contas e frações. Agora aqui eu aprendi”.


Tudo começou quando uma criança vizinha do casal apresentou dificuldades na escola. Sonia percebeu que podia fazer alguma coisa para mudar essa realidade. A partir daí começou a receber o pequeno escolar e convidou mais dois que estavam com a mesma dificuldade. Aos poucos, o número de alunos foi aumentando e ela percebeu que a experiência dava certo e que os resultados eram positivos.


Até agora, o projeto já recebeu mais de 60 crianças em seus três anos de existência e o ingresso de alunos é feito na medida em que as vagas vão surgindo. Quando as mães percebem a melhora dos filhos na escola, dão lugar a outra criança.


A frequência dos alunos costuma ser alta, pois há uma preocupação da própria criança em não perder sua vaga. Sonia e Jeferson afirmam que os alunos chegam muito animados com o projeto, pressionando até os pais para chegarem logo.


Benefícios no aprendizado
Diante da melhora no desempenho escolar das crianças, alguns pais já notaram que o Suave Caminho tem contribuído também para o desenvolvimento afetivo, a atenção em sala de aula e o gosto pela leitura. Segundo eles, antes as crianças do projeto apresentavam muita dificuldade para ler. Hoje, com o reforço que recebem do Suave Caminho, os alunos são estimulados para o exercício da leitura e do aprendizado.

O técnico de áudio, Augusto César Zaparolli, pai de Débora Vitória, que está na 3º série do ensino fundamental e participa do projeto, acredita que o reforço já contribuiu para a melhora do desempenho escolar de sua filha. “O projeto vem ajudando muito. Ela estava com algumas dificuldades e agora está com um desenvolvimento melhor”. Ele acredita que o grande número de alunos em sala de aula na rede pública de ensino, dificulta uma atenção especial por parte dos professores.


A psicopedagoga Ana Lúcia Braga acredita que atitudes como as de Sonia e Jeferson podem contribuir para o sucesso da criança na escola. “Se existe alguém que tem a intenção, mesmo não sendo professor, ou educador, de dar atenção para a criança e ainda se propõe a contar histórias, jogar jogos educativos e fazer atividades pedagógicas, isso ajuda sim”. Para Ana Lucia, se as crianças puderem tirar suas dúvidas no reforço escolar, provavelmente não apresentarão problemas em sala de aula.

Doações

Todos os materiais utilizados no projeto são adquiridos através de doações. O casal aceita somente os materiais e equipamentos utilizados pelas crianças, rejeitando qualquer tipo de ajuda financeira, para garantir a transparência do projeto. O Suave Caminho não possui um patrocinador ou colaborador mensal. A divulgação é feita através de pessoas que conhecem o trabalho do casal, se interessam pela causa e passam a ajudar.

Sonia ressalta um dos motivos mais importantes para oferecer material às crianças, em vez de pedir que elas tragam de casa. “O que a gente pede [aos doadores] é o material básico como lápis, borracha, lápis de cor. Dessa forma, não existirá uma diferença de material entre elas”.

O Suave Caminho já recebeu a doação de cinco computadores e idealiza um espaço maior, para poder atender mais crianças. Sonia e Jeferson têm a intenção de conseguir voluntários para dar aulas de espanhol e informática e montar uma brinquedoteca, tudo para aperfeiçoar ainda mais o projeto e atender as diversas necessidades das crianças.

Sonia pensa em continuar seus estudos, que foram interrompidos no 2º ano do ensino médio e fazer um curso superior que traga a oportunidade de continuar trabalhando em benefício da sociedade. Como ela diz para seus alunos, “a pior deficiência é a preguiça, pois para essa não tem jeito”.

No Natal de 2010, o casal fez uma festa para as crianças do bairro, que participam ou não do projeto, e conseguiu presentear 100 crianças com brinquedos, roupas e sapatos novos. Todos os presentes foram conseguidos através de doações dos amigos do projeto. 


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